Olá queridos amigos...
O motivo dessa nova postagem é comentar sobre 2 novos rótulos q me foram apresentados e dividir com os amigos essa experiência.
Trata-se de vinhos portugueses da Quinta da Pedra Alta (QPA), região do Douro-Portugal. O QPA tinto 2007 é feito de um blended de touriga nacional, touriga franca, tinta roriz e tinta barroca. Estagia 06 meses em barricas americanas. É um tinto jovem, fresco, sem grandes complexidades, mas q costuma agradar os iniciantes no mundo do vinho por ser leve e fácil de beber. Me arrisco em dizer q deve ir bem com um bom risoto de bacalhau, e é uma boa dica para quem não quer gastar muito para isso.
O outro vinho vem da mesma casa e é ainda mais simples. Soutinho 2007 é um vinho jovem, frutadinho, feito com as mesmas castas do vinho anterior e vem para o mercado para concorrer com os vinhos ¨reservados¨do novo mundo q temos por aí. Para quem quer dar uma festa regada a vinho tinto e não quer cair na mesmice de comprar rótulos muito conhecidos e que todo mundo já sabe o preço (R$ 20,00) por se vender na maioria das redes de supermercados, Soutinho tinto será uma boa opção.
Vale ressaltar que esses 2 produtos, foram testados por mim em degustação junto aos clientes do empório JF em Vinhedo-SP, obtendo aprovação da grande maioria (90%) se julgando o primeiro (QPA) a ser vendido até R$ 35,00 e o segundo (Soutinho) a ser vendido até R$ 25,00.
Esses vinhos podem ser adquiridos na região de Campinas, no Juliato, à Av dos Esportes, 450, centro, Valinhos-SP.
Fica mais essa dica, para quem quer beber bem e não gastar muito, um grande abraço, boas festas, Feliz ano novo!!!
Por mais raro que seja, ou mais antigo, Só um vinho é deveras excelente. Aquele que tu bebes, docemente, Com teu mais velho e silencioso amigo. ¨Mário Quintana¨
quinta-feira, 29 de dezembro de 2011
segunda-feira, 26 de dezembro de 2011
Sejam Felizes sempre, nós temos essa obrigação!!! FELIZ 2012.
Hoje estava pensando em escrever uma mensagem de otimismo por conta do final de 2011 e a chegada de 2012. É sempre assim, de uma forma mágica, sempre temos a esperança que o próximo ano, vai ser aquele em que realizaremos todos os nossos projetos de vida e alcançaremos todos os nossos objetivos.
Quando comecei a escrever, não pude deixar de lembrar de minha mãe. Enquanto ela esteve em nosso meio, sempre passei as viradas de ano com ela, e me lembro dos nossos projetos. Ela sempre tinha um, fosse mudar de casa, fosse voltar a trabalhar ou simplesmente o de ajudar a alguem, filho, neto,nora,genro...etc.
Mesmo muito sofrida e mesmo não tendo muitos recursos financeiros, tinha uma garra incrível, e sempre ajudou demais a mim e a cada um de meus 6 irmãos. Quando tudo parecia perdido, quando o problema parecia não ter solução, lá vinha minha mãe, com seus planos, com seu jeito, com as suas soluções, com seu amor, com sua palavra amiga e serena, que transmitiam paz e segurança, e tudo então virava calmaria.
Então, cheguei a conclusão, que o melhor q posso desejar a todos vocês meus queridos, é o que minha querida mãe Mary Margaret Thomson me ensinou.
¨Que não percamos nossos sonhos, que tenhamos em 2012 e nos anos que porventura ainda virão, sempre novos projetos de vida, olharmos sempre para o horizonte, para o que ainda está por vir, mas sem que nunca nos esqueçamos que ninguém vive sozinho, que é sempre bom olhar para o lado e ver que alguém pode estar precisando de você. Que tenhamos sempre uma palavra de otimismo que traga paz e segurança pra quem precisa ouvir, que seja uma palavra de AMOR... Feliz 2012, muita paz e muita saúde, sejam felizes sempre, porque nós temos a obrigação de sermos!!!¨
Quando comecei a escrever, não pude deixar de lembrar de minha mãe. Enquanto ela esteve em nosso meio, sempre passei as viradas de ano com ela, e me lembro dos nossos projetos. Ela sempre tinha um, fosse mudar de casa, fosse voltar a trabalhar ou simplesmente o de ajudar a alguem, filho, neto,nora,genro...etc.
Mesmo muito sofrida e mesmo não tendo muitos recursos financeiros, tinha uma garra incrível, e sempre ajudou demais a mim e a cada um de meus 6 irmãos. Quando tudo parecia perdido, quando o problema parecia não ter solução, lá vinha minha mãe, com seus planos, com seu jeito, com as suas soluções, com seu amor, com sua palavra amiga e serena, que transmitiam paz e segurança, e tudo então virava calmaria.
Então, cheguei a conclusão, que o melhor q posso desejar a todos vocês meus queridos, é o que minha querida mãe Mary Margaret Thomson me ensinou.
terça-feira, 13 de dezembro de 2011
Confraria no Empório JF - 10.12.11 - Vinhedo-SP
Olá queridos...
Na noite do último sábado dia 10.12.11, realizamos no Empório JF em Vinhedo-SP, uma agradável confraternização, com direito a degustação às cegas de vinhos tintos dos USA ( Hayes Ranch Cabernet Sauvignon 2009), Grécia (Agiorgitiko Nemea Boutari 2004), Uruguai (Gimenez Mendez Arinarnoa alta reserva 2009) e França (L de Laffite Laujac Médoc 2006). Tivemos como acompanhamento, tábua de queijos e brusquetas à moda do Empório JF. Também vale ressaltar q como entrada servimos o vinho branco Casa Valduga Chardonnay Arte reserva 2010. Participaram da degustação, 16 confrades e enófilos vindos de Itu, Campinas, Valinhos e Vinhedo.
Um dos pontos altos da degustação se deu por conta da equivalência dos vinhos degustados no que se refere a qualidade. Embora produzidos em países diferentes e com características próprias, os vinhos do USA, Uruguai e França agradaram em cheio os 16 participantes. O Hayes Ranch Cabernet Sauvignon se apresentou extremamente redondo, com taninos maduros, acidez equilibrada e alcool compatível. Um agradável final q confirmou na boca o q apresentara nos aromas logo no início. O Uruguaio Gimenez Mendez da exótica cepa Arinarnoa (Cruzamento entre Merlot e Petit Verdot), se mostrou surpreendente, com bom corpo, grande intensidade de cor( Rubi violáceo), taninos ainda bem aparentes porém agradáveis para quem gosta de um vinho com boa pegada. Aliás, numa disputa acirrada, esse vinho ganhou o voto da maioria dos confrades como o melhor vinho da noite. Uma ótima indicação para quem quer surpreender, numa festa, numa degustação ou simplesmente a dois. O L de Laffite Laujac tb não decepcionou. Trata-se de um bordeaux muito agradável, num blend macio de Cabernet Sauvignon e Merlot, 50% cada. Bem maduro, muito equilibrado ficou abaixo dos 2 primeiros mas representou bem a sutilidade dos vinhos franceses. Como ponto baixo da degustação, só mesmo o grego Nemea Boutari Agiorgitiko 2004, q apresentava características pouco agradáveis, aromas fechados e visual atijolado, dando indícios q o vinho já estava em sua curva descendente, vinho q deveria ter sido degustado ainda em sua juventude, 2 ou 3 anos após engarrafamento.
Foi uma noite muito especial e sem dúvidas inesquecível. Fica aqui a expectativa para os próximos encontros e o gosto de quero mais... Tim Tim, um brinde à VIDA!!!
domingo, 4 de dezembro de 2011
terça-feira, 29 de novembro de 2011
¨Degustação da semana¨
Olá queridos amigos...
Pretendo usar esse espaço semanalmente, apresentando a vocês, opções do mercado de vinho, no quesito relação qualidade/preço.
O vinho escolhido para abrirmos esse espaço é o italiano da puglia, Sud Malvasia Nera IGT - Feudi di San Marzano 2009.
Adquiri esse vinho no ¨Juliato¨ na Av. Dos Esportes, 450 - Centro de Valinhos-SP, lá o simpatissíssimo Robson, me apresentou o referido vinho, que mais tarde num evento de formatura de Sommeliers da ABS Campinas, degustamos e constatamos se tratar realmente de um vinho de relação custo benefício fantástico.
Vinho de cor rubi violáceo, é muito intenso nos aromas, q revelam com muita elegancia, aromas sutis de especiarias(Cravo) e frutas vermelhas(Cereja). Bom corpo, bem distribuído, com seus 13% de alcool é redondo mesmo, alíás característica dos bons vinhos do sul da Itália(Puglia). Tem um final agradável, muito refrescante.
Vai super bem com massas, queijos e até com carne vermelha.
Vale a pena conferir!
Você pode encontrar esse vinho no Juliato em Valinhos, pelo preço de R$ 31,90.
Até nossa próxima dica, abraços a todos...
Sommelier Marcelo Thomson.
Pretendo usar esse espaço semanalmente, apresentando a vocês, opções do mercado de vinho, no quesito relação qualidade/preço.
O vinho escolhido para abrirmos esse espaço é o italiano da puglia, Sud Malvasia Nera IGT - Feudi di San Marzano 2009.
Adquiri esse vinho no ¨Juliato¨ na Av. Dos Esportes, 450 - Centro de Valinhos-SP, lá o simpatissíssimo Robson, me apresentou o referido vinho, que mais tarde num evento de formatura de Sommeliers da ABS Campinas, degustamos e constatamos se tratar realmente de um vinho de relação custo benefício fantástico.
Vinho de cor rubi violáceo, é muito intenso nos aromas, q revelam com muita elegancia, aromas sutis de especiarias(Cravo) e frutas vermelhas(Cereja). Bom corpo, bem distribuído, com seus 13% de alcool é redondo mesmo, alíás característica dos bons vinhos do sul da Itália(Puglia). Tem um final agradável, muito refrescante.
Vai super bem com massas, queijos e até com carne vermelha.
Vale a pena conferir!
Você pode encontrar esse vinho no Juliato em Valinhos, pelo preço de R$ 31,90.
Até nossa próxima dica, abraços a todos...
Sommelier Marcelo Thomson.
sexta-feira, 25 de novembro de 2011
quarta-feira, 23 de novembro de 2011
A verdadeira origem do whisky
Verdadeira Origem do Whisky
A primeira referência escrita ao whisky aparece num documento de 1494 em que o rei James IV ordenava ao frade John Cor para fazer "aqua vitae" na quantidade de "VIII bolts of malt" o que equivale a 400 garrafas de whisky quotidiano. O frade Cor pertencia à Ordem dos Beneditions na Abadia de Lindores. Diz-se que tal resultou do primeiro contacto do rei com a "aqua vitae" em Islay (ou "uisge beatha" em Celta) aonde teria estado em campanha no ano anterior.
Em 1505 foi criado o "Guild of Surgeon Barbers of Edinburgh" ao qual foi concedido o direito exclusivo de produzir e vender "aqua vitae" no burgo em resultado das suas propriedades medicinais.
Apesar da utilidade do refrigerar o "spirit” proveniente do alambique tenha sido descoberta ainda no Séc XV, foi apenas no Séc XVI que foram inventados os "Worms" assim como as vantagens do alongamento dos alambiques.
Como resultado da dissolução dos Mosteiros na Escócia em 1560, o conhecimento que os frades tinham da destilação foi abarcado pela comunidade pelo que se desenvolveu a produção doméstica. De tal forma se procriou que foi decretada a sua proibição em 1579 em anteciparão de fracas colheitas e restringida aos "Earls, Lords, Barons and Gentlemen" para seu próprio consumo. Levantada a sua proibição mais tarde a produção doméstica de "aqua vitae" tinha lugar para aproveitamento dos excedentes das colheitas, começando mesmo a ser exportada para Inglaterra, Irlanda ou França. Tal originou a primeira taxa imposta pelo Parlamento Escocês para ajudar o financiamento do exército contra Charles I de Inglaterra em 1644.
A primeira destilaria mencionada num documento oficial teve lugar em Ferintosh na "Black Isle" em 1670 e foi estabelecida por Duncan Forbes. Por ter sido mais tarde saqueada pelos apoiantes de James II em 1689, Mr Forbes reclamou uma indenização tendo-lhe sido concedido o direito de destilar whisky nas suas terras sem pagar imposto. Esse direito foi mantido até 1784 o que permitiu à família Forbes destilar mais de 2/3 da totalidade do whisky produzido.
A forma de aplicação do imposto sobre o álcool em 1725 teve como conseqüência a redução no consumo de cerveja e o aumento do de whisky. Tal só foi possível por se começar a destilar também trigo e cevada não maltada. As destilarias domésticas estavam isentas de imposto dado o caráter do seu autoconsumo embora o whisky servisse como moeda de troca por toda a Escócia. De novo o mau ano agrícola de 1757 levou à proibição da destilação legal e conseqüente falência das destilarias autorizadas. Dado que as destilarias domésticas pouco foram afetadas, estava iniciada a era do contrabando. Para sobreviver as destilarias oficiais sob a égide das famílias Haig e Stein criaram um monopólio e destilavam whisky de muito baixa qualidade dado ser consumido com água, açúcar e limão (o chamado "punch").
Em 1784 a "Wash Act" reduziu os impostos e introduziu a "Highland line" que marcou definitivamente a distinção entre os whiskies das Highlands e das Lowlands. Os primeiros não podiam ser vendidos abaixo daquela linha o que naturalmente levou ao acréscimo de contrabando. Tal fato conjugado com os múltiplos aumentos de taxas em redor de 1800 cuja incidência chegou a ser por alambique levou as destilarias a alterar o tamanho destes para pagar menos impostos. Por fim o "Excise Act" de 1823 ao reduzir os impostos e introduzir armazéns "duty free" para exportação, conseguiu colocar alguma ordem no sector aumentando o número de destilarias legais, sendo considerado como a base da indústria moderna.
Em meados do Séc. XIX todos os grandes nomes dos nossos dias tais como Ballantine, Johnnie Walker, Arthur Bell ou John Dewar fizeram fortuna com a descoberta do "blended" ou seja, a utilização de outros grãos que não a cevada maltada. Tal permitiu uma explosão do mercado sendo o Scotch exportado para todo e qualquer lugar aonde houvesse expatriados. O ataque dos vinhedos franceses pela filoxera teve a "virtude" de levar à substituição de brandy por whisky.
Os excessos de produção e de stocks levaram no início do séc XX a uma crise sem precedentes que a 1ª Guerra Mundial veio reforçar. Paradoxalmente a "Prohibition" nos E.U.A que durou entre 1920 e 1933 teve como conseqüência uma procura desenfreada de Scotch, vendido ilegalmente através das Caraíbas.
Wiston Churchill reconhecia a importância econômica que o Whisky teve para o Reino Unido após a 2ª Guerra, aligeirando a sua enorme dívida para com os E.U.A. A expansão que o sector sofreu levou à reabertura de várias destilarias antes encerradas tais como Glenturret, Benriach, Jura ou Caperdonich e muitas outras dobraram de capacidade. Esta tendência foi de novo contrariada em 1974 com o choque petrolífero não parando mais de subir desde então.
Os whiskys de malte receberam um novo ímpeto a partir dos anos 80 sendo a única forma de empresas independentes reagirem a excessiva concentração no sector: os grandes grupos tornavam-se auto-suficientes não deixando mercado para aqueles lhes venderem os seus maltes para incorporar nos "blends". Um novo consumidor emergiu em busca de mais diversidade e autenticidade, menos permeável às campanhas de "mass marketing". Esse é o consumidor do whisky de malte. Por outro lado, o whisky de malte passou também a ser um valioso objeto de coleção e de investimento. Uma garrafa de Bowmore do século passado atingiu a módica quantia de cerca de 4,750. Sinais de um futuro auspicioso para este produto!
A primeira referência escrita ao whisky aparece num documento de 1494 em que o rei James IV ordenava ao frade John Cor para fazer "aqua vitae" na quantidade de "VIII bolts of malt" o que equivale a 400 garrafas de whisky quotidiano. O frade Cor pertencia à Ordem dos Beneditions na Abadia de Lindores. Diz-se que tal resultou do primeiro contacto do rei com a "aqua vitae" em Islay (ou "uisge beatha" em Celta) aonde teria estado em campanha no ano anterior.
Em 1505 foi criado o "Guild of Surgeon Barbers of Edinburgh" ao qual foi concedido o direito exclusivo de produzir e vender "aqua vitae" no burgo em resultado das suas propriedades medicinais.
Apesar da utilidade do refrigerar o "spirit” proveniente do alambique tenha sido descoberta ainda no Séc XV, foi apenas no Séc XVI que foram inventados os "Worms" assim como as vantagens do alongamento dos alambiques.
Como resultado da dissolução dos Mosteiros na Escócia em 1560, o conhecimento que os frades tinham da destilação foi abarcado pela comunidade pelo que se desenvolveu a produção doméstica. De tal forma se procriou que foi decretada a sua proibição em 1579 em anteciparão de fracas colheitas e restringida aos "Earls, Lords, Barons and Gentlemen" para seu próprio consumo. Levantada a sua proibição mais tarde a produção doméstica de "aqua vitae" tinha lugar para aproveitamento dos excedentes das colheitas, começando mesmo a ser exportada para Inglaterra, Irlanda ou França. Tal originou a primeira taxa imposta pelo Parlamento Escocês para ajudar o financiamento do exército contra Charles I de Inglaterra em 1644.
A primeira destilaria mencionada num documento oficial teve lugar em Ferintosh na "Black Isle" em 1670 e foi estabelecida por Duncan Forbes. Por ter sido mais tarde saqueada pelos apoiantes de James II em 1689, Mr Forbes reclamou uma indenização tendo-lhe sido concedido o direito de destilar whisky nas suas terras sem pagar imposto. Esse direito foi mantido até 1784 o que permitiu à família Forbes destilar mais de 2/3 da totalidade do whisky produzido.
A forma de aplicação do imposto sobre o álcool em 1725 teve como conseqüência a redução no consumo de cerveja e o aumento do de whisky. Tal só foi possível por se começar a destilar também trigo e cevada não maltada. As destilarias domésticas estavam isentas de imposto dado o caráter do seu autoconsumo embora o whisky servisse como moeda de troca por toda a Escócia. De novo o mau ano agrícola de 1757 levou à proibição da destilação legal e conseqüente falência das destilarias autorizadas. Dado que as destilarias domésticas pouco foram afetadas, estava iniciada a era do contrabando. Para sobreviver as destilarias oficiais sob a égide das famílias Haig e Stein criaram um monopólio e destilavam whisky de muito baixa qualidade dado ser consumido com água, açúcar e limão (o chamado "punch").
Em 1784 a "Wash Act" reduziu os impostos e introduziu a "Highland line" que marcou definitivamente a distinção entre os whiskies das Highlands e das Lowlands. Os primeiros não podiam ser vendidos abaixo daquela linha o que naturalmente levou ao acréscimo de contrabando. Tal fato conjugado com os múltiplos aumentos de taxas em redor de 1800 cuja incidência chegou a ser por alambique levou as destilarias a alterar o tamanho destes para pagar menos impostos. Por fim o "Excise Act" de 1823 ao reduzir os impostos e introduzir armazéns "duty free" para exportação, conseguiu colocar alguma ordem no sector aumentando o número de destilarias legais, sendo considerado como a base da indústria moderna.
Em meados do Séc. XIX todos os grandes nomes dos nossos dias tais como Ballantine, Johnnie Walker, Arthur Bell ou John Dewar fizeram fortuna com a descoberta do "blended" ou seja, a utilização de outros grãos que não a cevada maltada. Tal permitiu uma explosão do mercado sendo o Scotch exportado para todo e qualquer lugar aonde houvesse expatriados. O ataque dos vinhedos franceses pela filoxera teve a "virtude" de levar à substituição de brandy por whisky.
Os excessos de produção e de stocks levaram no início do séc XX a uma crise sem precedentes que a 1ª Guerra Mundial veio reforçar. Paradoxalmente a "Prohibition" nos E.U.A que durou entre 1920 e 1933 teve como conseqüência uma procura desenfreada de Scotch, vendido ilegalmente através das Caraíbas.
Wiston Churchill reconhecia a importância econômica que o Whisky teve para o Reino Unido após a 2ª Guerra, aligeirando a sua enorme dívida para com os E.U.A. A expansão que o sector sofreu levou à reabertura de várias destilarias antes encerradas tais como Glenturret, Benriach, Jura ou Caperdonich e muitas outras dobraram de capacidade. Esta tendência foi de novo contrariada em 1974 com o choque petrolífero não parando mais de subir desde então.
Os whiskys de malte receberam um novo ímpeto a partir dos anos 80 sendo a única forma de empresas independentes reagirem a excessiva concentração no sector: os grandes grupos tornavam-se auto-suficientes não deixando mercado para aqueles lhes venderem os seus maltes para incorporar nos "blends". Um novo consumidor emergiu em busca de mais diversidade e autenticidade, menos permeável às campanhas de "mass marketing". Esse é o consumidor do whisky de malte. Por outro lado, o whisky de malte passou também a ser um valioso objeto de coleção e de investimento. Uma garrafa de Bowmore do século passado atingiu a módica quantia de cerca de 4,750. Sinais de um futuro auspicioso para este produto!
sábado, 19 de novembro de 2011
Nocões básicas de degustação.
A degustação de vinhos deveria fazer parte da Declaração Universal dos Direitos do Homem. Afinal de contas, todos deveriam conhecer um pouco desta técnica que é a degustação, para poder aproveitar o vinho em toda sua plenitude. No entanto, de forma incompreensível, se difundiu a idéia, errônea e preconceituosa, de que somente alguns privilegiados poderiam ter acesso a esta difícil prática. Os demais mortais estariam irremediavelmente condenados a apenas beber o vinho pelo resto de suas vidas.
Na verdade, qualquer indivíduo pode, e deve, aprender a degustar um vinho. Basta que tenha todos os seus sentidos funcionando e que conheça os princípios básicos da degustação.
Afinal o que é realmente degustar um vinho ?
Degustar um vinho é, nas palavras de Emile Peynaud, um dos maiores enólogos da França, submetê-lo aos seus órgãos dos sentidos, analisando-o atentamente. Em outras palavras, degustar é beber com atenção. A degustação, como técnica que é, não deve ser utilizada como meio de exibição ou de demonstração de dotes excepcionais, por indivíduos que são os responsáveis pela imagem pouco lisonjeira que os verdadeiros conhecedores de vinho têm. Deve-se degustar um vinho em local adequado, com boa iluminação e livre de odores, tomando-se o cuidado de servir o vinho em taças adequadas (padrão ISO/INAO, encontráveis nas boas lojas de vinhos) e na sua correta temperatura de serviço.
Para acompanhar os vinhos durante a degustação recomenda-se apenas água mineral (com ou sem gás) e pão francês simples, que devem ser consumidos entre um vinho e outro.
As fases da degustação
A degustação é dividida em três fases: análise visual, análise olfativa e análise gustativa, nesta ordem obrigatoriamente. Antes de se começar deve-se estar atento para a maneira de segurar a taça, sempre pela base ou pela haste e nunca pelo corpo do copo, para não alterar a temperatura do vinho e para não sujar o copo, dificultando a visualização do vinho
Análise visual
Esta talvez seja a mais negligenciada de todas as etapas da degustação de vinhos. Poucas pessoas param para apreciar a cor do vinho e para descobrir as pistas que o visual nos dá sobre a sua evolução, sua maturidade ou mesmo o seu teor de álcool.
Para bem analisar um vinho devemos estar atentos para a intensidade de cor, a tonalidade, a limpidez, a transparência e as lágrimas. Deve-se colocar vinho em cerca de 1/3 do copo e apreciar o vinho tanto ao nível dos olhos, como inclinado a 45o sobre uma superfície branca. Quanto à intensidade, um vinho pode ser mais ou menos escuro, dependendo da uva que lhe deu origem, da sua idade e da concentração de matéria sólida dissolvida no líquido (extrato).
A tonalidade de um vinho indica aproximadamente o seu grau de maturidade. De modo geral, podemos dizer que um vinho branco fica mais escuro com o envelhecimento e que os vinhos tintos ficam mais claros à medida que o tempo passa. É importante perceber, no caso de vinhos tintos e com o copo inclinado, se existem diferenças de tonalidade entre o centro o copo e as bordas, pois isto indica um grau de evolução e maturidade do vinho.
Os vinhos brancos geralmente começam sua vida com a cor amarelo-palha, evoluindo para amarelo-ouro e âmbar com o passar do tempo. Claro que isto depende um pouco do tipo de uva com a qual o vinho foi produzido. Existem certas variedades de uvas que dão origem a vinhos mais escuros, mesmo jovens.
Os tintos, pela presença inicial do pigmento antociano, azul, são de cor púrpura (roxo), quando jovens, evoluindo para vermelho-rubi, vermelho-granada e âmbar com a maturidade. Brancos e tintos terminam sua vida da mesma cor. Notem que dissemos terminam sua vida, pois o vinho, como um ser vivo, tem uma vida finita. Daí vem o ensinamento que a velha frase que diz ser um vinho quanto mais velho melhor, ser absolutamente falsa e desprovida de qualquer fundamento. Cada vinho tem o seu melhor momento de consumo e a análise visual nos dá boas indicações de quando será este momento.
A seguir verifica-se se um vinho é límpido, ou seja, se não tem partículas em suspensão e qual o seu grau de transparência, ou seja, o quanto o vinho deixa passar de luz.
Uma leve agitação do vinho permitirá que o mesmo escorra pelas paredes do copo, formando estruturas que são descritas como lágrimas ou arcos. Isto se dá por um fenômeno físico-químico, pela diferença de tensão superficial entre as diferentes substâncias do vinho. Quanto mais lágrimas um vinho mostrar e quanto mais finas forem estas lágrimas, maior será seu teor de álcool etílico (etanol). A velocidade com que as lágrimas escorrem pela parede do copo indicam a densidade do vinho, dependendo neste caso do extrato e da quantidade de glicerina.
Análise Olfativa
Quando você parar de agitar o vinho, durante a queda das lágrimas, é tempo de começar o próximo passo: a análise olfativa. Agitando o vinho, este se vaporiza e na fina película do líquido que recobre a parede interior do copo, este se evapora rapidamente. O resultado é uma intensificação dos aromas que se tornarão mais concentrados se o copo for mais estreito em sua porção superior. Deixe o vinho descansar por alguns segundos, coloque seu nariz diretamente no copo e aspire.
O vinho tem aromas diversos do de uva. A análise de seus componentes voláteis revela as mesmas moléculas que criam aromas que nos são familiares. Eis alguns exemplos: rosa, cereja, ameixa, amora, framboesa, maracujá, banana, pêssego, mel e baunilha. Até alguns aromas pouco comuns, tais como: alcatrão, couro, tabaco e bacon defumado, identificados por degustadores experientes, têm sua origem em substâncias com afinidades químicas básicas.
É notória a dificuldade de se encontrar palavras adequadas para descrever as complexas e efêmeras sensações olfativas que emanam de um copo de vinho. Para aumentar esta dificuldade, deve-se ressaltar que o aroma de um vinho está em constante evolução, mudando suas características com rapidez desde o momento em que é colocado no copo. Estes aromas também mudam se forem avaliados com o copo em repouso ou logo após uma breve agitação. Desta forma, numa degustação, deve-se freqüentemente reavaliar os aromas do vinho, captando-se estas mudanças.
Numa tentativa de facilitar a análise olfativa dos vinhos, poderíamos dividir teoricamente os aromas em primários - seriam os originários da própria uva, secundários - os originados do processo fermentativo e do amadurecimento em madeira (carvalho) e terciários - os originados do envelhecimento na garrafa e também conhecidos por bouquet.
Segundo Peynaud, também podemos classificar os aromas em famílias, como se segue:
==> Florais rosas, violetas, jasmins, acácias, etc.
==> Frutados cassis, cerejas, ameixas, pêssegos, limões, laranjas, etc.
==> Especiarias pimenta, cravo, canela, alcaçuz, noz-moscada, etc.
==> Animais caça, carne, pêlo molhado, couro, etc.
==> Vegetais palha, capim, feno, cana de açúcar, cogumelos, chá, fumo, etc.
==> Minerais vulcânico, petróleo, pedra de isqueiro, etc.
==> Balsâmicos resinoso, pinho, eucalipto, baunilha, etc.
==> Químicos odores da fermentação, fermento de pão, enxofre, esmalte de unha, mercaptano (aliáceo), cola de aeromodelo, removedor de esmalte, etc.
==> Empireumáticos odores associados a calor e fogo, tais como o alcatrão, tostado, defumado, caramelo, café torrado, piche, etc.
==> Outros aromas chocolate, mel, caixa de charutos, "sous-bois", etc.
Da mesma forma que a cor, os aromas do vinho oferecem pistas de seu caráter, origem e história. De uma maneira muito genérica e simplista poderíamos dizer que:
a) Nos vinhos jovens predominam traços de flores e frutas frescas ou vegetais, que evoluem com o envelhecimento do vinho para os aromas de frutas mais maduras, secas ou em geléia.
b) Nos vinhos mais envelhecidos predominam aromas animais ou de decomposição.
c) Nos vinhos brancos predominam aromas de flores brancas e amarelas ou de frutas brancas ou amarelas: maçã, pêra, abacaxi, melão, pêssego, maracujá, lírio, jasmim branco, etc.
d) Nos vinhos tintos percebemos aromas de flores ou frutas vermelhas: rosa, violeta, morango, cereja, framboesa, amora, groselha.
e) Os aromas típicos das diferentes variedades de uvas e porque não, até de algumas regiões vinícolas, podem ser reconhecidos em determinados vinhos.
A única maneira de se identificar com relativa facilidade os complexos aromas que os vinhos apresentam é se reativar nossa imensa capacidade de reconhecer os aromas existentes na natureza. Em outras palavras, temos que formar nossa memória olfativa. Isto se faz de forma sistemática e criteriosa, prestando atenção aos aromas existentes na natureza e no ambiente, procurando guardá-los na memória. Isto requer tempo e disciplina, além de muita dedicação no treino das técnicas de degustação. Em se tratando de vinhos, acredito que não será difícil treinarmos com afinco e porque não dizer, com grande prazer.
Análise gustativa
A última parte da avaliação sensorial do vinho diz respeito aos aspectos gustativos. É importante ressaltar que a expressão gosto abrange na verdade um conjunto de sensações: as gustativas, cutâneas e as olfativas retro-nasais. As sensações gustativas revelam quatro sabores: doce, salgado, ácido e amargo; a sensibilidade cutânea nos dá sensações táteis (adstringência, aspereza e maciez ou untuosidade), térmicas e dolorosas, que poderíamos definir como complementares; o olfato por sua vez fornece o aroma (sensações odoríficas retro-nasais), que é o componente mais importante do gosto, pois é o que mais influencia o caráter e determina a qualidade. Todas estas sensações são percebidas quase ao mesmo tempo, e por isso muitas vezes é difícil analisá-las, separá-las e atribuí-las com certeza a uma determinada modalidade sensorial.
Mais uma vez a técnica correta é essencial para uma completa avaliação. Leve o copo à boca e coloque uma quantidade suficiente, ou seja, o bastante para que o vinho possa percorrer toda a sua boca. Mantenha o vinho dentro da boca por cerca de dez a quinze segundos, fazendo-o manter contato com as diferentes partes da língua que identificam as sensações gustativas. Em outras palavras, deixe o vinho passear livremente pela boca, observando atentamente as diferentes sensações em cada região da língua e das mucosas.
Estas sensações referem-se aos sabores doce, salgado, ácido e amargo.
==> Doce no vinho, o sabor doce é provocado não só pelos açúcares residuais (frutose e glicose), mas também pelo álcool e pela glicerina (glicerol). Estas substâncias são melhor percebidas na ponta da língua e na fase de ataque (primeira fase da análise gustativa, logo que o vinho entra em contato com a boca) e são reconhecidas não apenas por sua doçura, mas também porque provocam sobre as mucosas da boca uma sensação tátil de maciez e untuosidade.
==> Salgado é um sabor raramente encontrado nos vinhos. É descrito, às vezes em vinhos de regiões muito próximas ao oceano, sendo o Jerez na Espanha o exemplo mais citado.
==> Ácido proveniente no caso dos vinhos, dos ácidos próprios da uva (tartárico, cítrico e málico) ou dos ácidos provenientes da fermentação alcoólica (succínico, láctico e acético). Estas substâncias são percebidas nas bordas laterais da língua, também na fase de ataque e reconhecidas pela salivação fluida e abundante que provocam.
==> Amargo os taninos podem provocar uma sensação de amargor discreto (em vinhos jovens de boa qualidade) que é melhor sentido no fundo da língua, ou mesmo nenhum amargor (se estes taninos forem muito finos e maduros). O amargor intenso e desagradável é, sempre que presente, um defeito ou uma doença do vinho.
A amplitude destas sensações gustativas pode ser aumentada através de técnicas especiais, que são mais apropriadas para as salas de degustação do que para ocasiões sociais. Inicialmente segure o vinho na boca e, com os lábios entreabertos, inale uma pequena quantidade de ar. Isto criará um turbilhonamento, que acelerará a vaporização do vinho, intensificando os aromas. A seguir, mastigue o vinho vigorosamente para retirar do mesmo cada sutil matiz de sabor.
Nesta fase, deve-se proceder a avaliação do chamado corpo do vinho, que é a sensação de peso que o vinho aparenta ter na boca. Pode ser definido ainda como o quão diferente da água o vinho em questão aparenta ser. O corpo do vinho está diretamente relacionado com o seu teor alcoólico - a quantidade de etanol do vinho e com o seu extrato - a quantidade de material sólido diluído no vinho.
O álcool também poderá excitar os receptores térmicos da língua, provocando uma falsa sensação de calor, freqüentemente acompanhada de uma ligeira ardência na mucosa bucal, além de provocar uma sensação de doçura e maciez.
A concentração de sabores
Um conceito fundamental que hoje, mais do que nunca, é muito valorizado na degustação de um vinho diz respeito à concentração dos aromas e sabores na boca. No jargão da degustação costuma-se referir a este aspecto como o "meio de boca", que num bom vinho deve ser preenchido pelos seus aromas e sabores de frutas. Aqui deve-se valorizar a qualidade e a concentração do vinho, na verdade o quanto de prazer que este vinho nos dá na boca. Cuidado no entanto para não subestimar os vinhos mais sutis, que possuem aromas e sabores delicados. Não se deixe impressionar pelos vinhos super-extraídos e freqüentemente muito alcoólicos, que costumam ser massivos e sem elegância.
A persistência aromática intensa e o aroma de boca
Denomina-se persistência aromática intensa a duração dos aromas e dos sabores de um vinho na boca, antes que estes diminuam de forma acentuada. Quanto mais prolongada for esta sensação, mais valorizado será um vinho. Este tempo de duração, medido em segundos, nos grandes vinhos pode ultrapassar a marca de um minuto.
Diz-se que um vinho tem curta persistência quando a duração for menor que 4 segundos, média persistência quando o tempo for de 5 a 7 segundos e longa persistência quando o tempo for de 8 ou mais segundos.
Após a deglutição do vinho, expire lentamente através da boca e do nariz. Isto fará com que os aromas atinjam o bulbo olfativo pela via retro-nasal, que liga a garganta e o nariz, constituindo-se numa rota alternativa para os aromas, prolongando seus efeitos por muito tempo após o vinho ter sido ingerido. É o que se costuma chamar de retro-olfato. Você descobrirá que quanto melhor for o vinho, seus aromas residuais serão mais complexos, profundos e duradouros.
Este é um momento sublime, de reflexão e comunhão, que só o vinho é capaz de proporcionar. Um grande vinho costuma ter aromas no retro-olfato diferentes dos aromas diretos. Quanto mais aromas novos surgirem, mais valorizado deve ser o vinho.
Adstringência: a qualidade dos taninos
Ainda no final de boca, perceba se existe algum sinal de adstringência, que é a sensação de secura na boca. Esta adstringência é provocada pelos taninos, que têm uma ação coagulante sobre a saliva. Quanto mais grosseiro for o tanino, maior a sensação de adstringência percebida na boca. Lembre-se que vinhos tintos jovens podem possuir taninos mais agressivos, que variam de intensidade de acordo com a variedade de uva. De qualquer forma, uma excessiva adstringência, independente da idade ou da varietal usada no vinho é um sinal preocupante de falta de delicadeza na vinificação ou de uvas colhidas antes de atingir seu máximo grau de maturidade fisiológica. Isto se traduz em taninos verdes e grosseiros, que muito provavelmente não melhorarão no período de envelhecimento na garrafa, por mais longo que seja o tempo de adega. Os grandes vinhos, mesmo jovens, possuem taninos maduros e macios que jamais agridem a mucosa da boca ou causam adstringência excessiva.
Ao final da avaliação gustativa, deveremos ainda correlacionar todas as sensações percebidas, expressando um conceito de difícil definição, que é o de equilíbrio e harmonia do vinho.
O equilíbrio do vinho
O equilíbrio gustativo é o resultado da complexa interação entre as substâncias que formam a estrutura do vinho, isto é, álcool, taninos, açúcares, extrato e ácidos. No caso dos vinhos brancos devemos analisar a relação entre os açúcares (se o vinho for doce) e o álcool, que conferem maciez ao vinho, em contraposição à acidez presente no mesmo. No caso dos vinhos tintos, os elementos a serem apreciados são a acidez, os taninos e o álcool. Quanto mais correta e equânime for a relação entre os elementos, melhor será o equilíbrio e a harmonia do vinho analisado.
Para finalizar, lembre-se de que a degustação de vinhos deve ser encarada como uma grande diversão e acima de tudo, ser extremamente agradável, constituindo-se numa inigualável atividade intelectual, que deve ser praticada com grande paixão.
Bibliografia
1. Emile Peynaud: Le Gôut du Vin
2. Giancarlo Bossi: Teoria e Prática da Degustação de Vinhos
3. Marian W. Baldi: The University Wine Course
4. Michael Broadbent: Winetasting - How to Approach and Appreciate Wine
5. Tom Stevenson: The New Sotheby's Wine Encyclopedia
6. Jancis Robinson: Wine Course
7. Jancis Robinson: The Oxford Companion to Wine
Texto de Arthur P. Azevedo.
Na verdade, qualquer indivíduo pode, e deve, aprender a degustar um vinho. Basta que tenha todos os seus sentidos funcionando e que conheça os princípios básicos da degustação.
Afinal o que é realmente degustar um vinho ?
Degustar um vinho é, nas palavras de Emile Peynaud, um dos maiores enólogos da França, submetê-lo aos seus órgãos dos sentidos, analisando-o atentamente. Em outras palavras, degustar é beber com atenção. A degustação, como técnica que é, não deve ser utilizada como meio de exibição ou de demonstração de dotes excepcionais, por indivíduos que são os responsáveis pela imagem pouco lisonjeira que os verdadeiros conhecedores de vinho têm. Deve-se degustar um vinho em local adequado, com boa iluminação e livre de odores, tomando-se o cuidado de servir o vinho em taças adequadas (padrão ISO/INAO, encontráveis nas boas lojas de vinhos) e na sua correta temperatura de serviço.
Para acompanhar os vinhos durante a degustação recomenda-se apenas água mineral (com ou sem gás) e pão francês simples, que devem ser consumidos entre um vinho e outro.
As fases da degustação
A degustação é dividida em três fases: análise visual, análise olfativa e análise gustativa, nesta ordem obrigatoriamente. Antes de se começar deve-se estar atento para a maneira de segurar a taça, sempre pela base ou pela haste e nunca pelo corpo do copo, para não alterar a temperatura do vinho e para não sujar o copo, dificultando a visualização do vinho
Análise visual
Esta talvez seja a mais negligenciada de todas as etapas da degustação de vinhos. Poucas pessoas param para apreciar a cor do vinho e para descobrir as pistas que o visual nos dá sobre a sua evolução, sua maturidade ou mesmo o seu teor de álcool.
Para bem analisar um vinho devemos estar atentos para a intensidade de cor, a tonalidade, a limpidez, a transparência e as lágrimas. Deve-se colocar vinho em cerca de 1/3 do copo e apreciar o vinho tanto ao nível dos olhos, como inclinado a 45o sobre uma superfície branca. Quanto à intensidade, um vinho pode ser mais ou menos escuro, dependendo da uva que lhe deu origem, da sua idade e da concentração de matéria sólida dissolvida no líquido (extrato).
A tonalidade de um vinho indica aproximadamente o seu grau de maturidade. De modo geral, podemos dizer que um vinho branco fica mais escuro com o envelhecimento e que os vinhos tintos ficam mais claros à medida que o tempo passa. É importante perceber, no caso de vinhos tintos e com o copo inclinado, se existem diferenças de tonalidade entre o centro o copo e as bordas, pois isto indica um grau de evolução e maturidade do vinho.
Os vinhos brancos geralmente começam sua vida com a cor amarelo-palha, evoluindo para amarelo-ouro e âmbar com o passar do tempo. Claro que isto depende um pouco do tipo de uva com a qual o vinho foi produzido. Existem certas variedades de uvas que dão origem a vinhos mais escuros, mesmo jovens.
Os tintos, pela presença inicial do pigmento antociano, azul, são de cor púrpura (roxo), quando jovens, evoluindo para vermelho-rubi, vermelho-granada e âmbar com a maturidade. Brancos e tintos terminam sua vida da mesma cor. Notem que dissemos terminam sua vida, pois o vinho, como um ser vivo, tem uma vida finita. Daí vem o ensinamento que a velha frase que diz ser um vinho quanto mais velho melhor, ser absolutamente falsa e desprovida de qualquer fundamento. Cada vinho tem o seu melhor momento de consumo e a análise visual nos dá boas indicações de quando será este momento.
A seguir verifica-se se um vinho é límpido, ou seja, se não tem partículas em suspensão e qual o seu grau de transparência, ou seja, o quanto o vinho deixa passar de luz.
Uma leve agitação do vinho permitirá que o mesmo escorra pelas paredes do copo, formando estruturas que são descritas como lágrimas ou arcos. Isto se dá por um fenômeno físico-químico, pela diferença de tensão superficial entre as diferentes substâncias do vinho. Quanto mais lágrimas um vinho mostrar e quanto mais finas forem estas lágrimas, maior será seu teor de álcool etílico (etanol). A velocidade com que as lágrimas escorrem pela parede do copo indicam a densidade do vinho, dependendo neste caso do extrato e da quantidade de glicerina.
Análise Olfativa
Quando você parar de agitar o vinho, durante a queda das lágrimas, é tempo de começar o próximo passo: a análise olfativa. Agitando o vinho, este se vaporiza e na fina película do líquido que recobre a parede interior do copo, este se evapora rapidamente. O resultado é uma intensificação dos aromas que se tornarão mais concentrados se o copo for mais estreito em sua porção superior. Deixe o vinho descansar por alguns segundos, coloque seu nariz diretamente no copo e aspire.
O vinho tem aromas diversos do de uva. A análise de seus componentes voláteis revela as mesmas moléculas que criam aromas que nos são familiares. Eis alguns exemplos: rosa, cereja, ameixa, amora, framboesa, maracujá, banana, pêssego, mel e baunilha. Até alguns aromas pouco comuns, tais como: alcatrão, couro, tabaco e bacon defumado, identificados por degustadores experientes, têm sua origem em substâncias com afinidades químicas básicas.
É notória a dificuldade de se encontrar palavras adequadas para descrever as complexas e efêmeras sensações olfativas que emanam de um copo de vinho. Para aumentar esta dificuldade, deve-se ressaltar que o aroma de um vinho está em constante evolução, mudando suas características com rapidez desde o momento em que é colocado no copo. Estes aromas também mudam se forem avaliados com o copo em repouso ou logo após uma breve agitação. Desta forma, numa degustação, deve-se freqüentemente reavaliar os aromas do vinho, captando-se estas mudanças.
Numa tentativa de facilitar a análise olfativa dos vinhos, poderíamos dividir teoricamente os aromas em primários - seriam os originários da própria uva, secundários - os originados do processo fermentativo e do amadurecimento em madeira (carvalho) e terciários - os originados do envelhecimento na garrafa e também conhecidos por bouquet.
Segundo Peynaud, também podemos classificar os aromas em famílias, como se segue:
==> Florais rosas, violetas, jasmins, acácias, etc.
==> Frutados cassis, cerejas, ameixas, pêssegos, limões, laranjas, etc.
==> Especiarias pimenta, cravo, canela, alcaçuz, noz-moscada, etc.
==> Animais caça, carne, pêlo molhado, couro, etc.
==> Vegetais palha, capim, feno, cana de açúcar, cogumelos, chá, fumo, etc.
==> Minerais vulcânico, petróleo, pedra de isqueiro, etc.
==> Balsâmicos resinoso, pinho, eucalipto, baunilha, etc.
==> Químicos odores da fermentação, fermento de pão, enxofre, esmalte de unha, mercaptano (aliáceo), cola de aeromodelo, removedor de esmalte, etc.
==> Empireumáticos odores associados a calor e fogo, tais como o alcatrão, tostado, defumado, caramelo, café torrado, piche, etc.
==> Outros aromas chocolate, mel, caixa de charutos, "sous-bois", etc.
Da mesma forma que a cor, os aromas do vinho oferecem pistas de seu caráter, origem e história. De uma maneira muito genérica e simplista poderíamos dizer que:
a) Nos vinhos jovens predominam traços de flores e frutas frescas ou vegetais, que evoluem com o envelhecimento do vinho para os aromas de frutas mais maduras, secas ou em geléia.
b) Nos vinhos mais envelhecidos predominam aromas animais ou de decomposição.
c) Nos vinhos brancos predominam aromas de flores brancas e amarelas ou de frutas brancas ou amarelas: maçã, pêra, abacaxi, melão, pêssego, maracujá, lírio, jasmim branco, etc.
d) Nos vinhos tintos percebemos aromas de flores ou frutas vermelhas: rosa, violeta, morango, cereja, framboesa, amora, groselha.
e) Os aromas típicos das diferentes variedades de uvas e porque não, até de algumas regiões vinícolas, podem ser reconhecidos em determinados vinhos.
A única maneira de se identificar com relativa facilidade os complexos aromas que os vinhos apresentam é se reativar nossa imensa capacidade de reconhecer os aromas existentes na natureza. Em outras palavras, temos que formar nossa memória olfativa. Isto se faz de forma sistemática e criteriosa, prestando atenção aos aromas existentes na natureza e no ambiente, procurando guardá-los na memória. Isto requer tempo e disciplina, além de muita dedicação no treino das técnicas de degustação. Em se tratando de vinhos, acredito que não será difícil treinarmos com afinco e porque não dizer, com grande prazer.
Análise gustativa
A última parte da avaliação sensorial do vinho diz respeito aos aspectos gustativos. É importante ressaltar que a expressão gosto abrange na verdade um conjunto de sensações: as gustativas, cutâneas e as olfativas retro-nasais. As sensações gustativas revelam quatro sabores: doce, salgado, ácido e amargo; a sensibilidade cutânea nos dá sensações táteis (adstringência, aspereza e maciez ou untuosidade), térmicas e dolorosas, que poderíamos definir como complementares; o olfato por sua vez fornece o aroma (sensações odoríficas retro-nasais), que é o componente mais importante do gosto, pois é o que mais influencia o caráter e determina a qualidade. Todas estas sensações são percebidas quase ao mesmo tempo, e por isso muitas vezes é difícil analisá-las, separá-las e atribuí-las com certeza a uma determinada modalidade sensorial.
Mais uma vez a técnica correta é essencial para uma completa avaliação. Leve o copo à boca e coloque uma quantidade suficiente, ou seja, o bastante para que o vinho possa percorrer toda a sua boca. Mantenha o vinho dentro da boca por cerca de dez a quinze segundos, fazendo-o manter contato com as diferentes partes da língua que identificam as sensações gustativas. Em outras palavras, deixe o vinho passear livremente pela boca, observando atentamente as diferentes sensações em cada região da língua e das mucosas.
Estas sensações referem-se aos sabores doce, salgado, ácido e amargo.
==> Doce no vinho, o sabor doce é provocado não só pelos açúcares residuais (frutose e glicose), mas também pelo álcool e pela glicerina (glicerol). Estas substâncias são melhor percebidas na ponta da língua e na fase de ataque (primeira fase da análise gustativa, logo que o vinho entra em contato com a boca) e são reconhecidas não apenas por sua doçura, mas também porque provocam sobre as mucosas da boca uma sensação tátil de maciez e untuosidade.
==> Salgado é um sabor raramente encontrado nos vinhos. É descrito, às vezes em vinhos de regiões muito próximas ao oceano, sendo o Jerez na Espanha o exemplo mais citado.
==> Ácido proveniente no caso dos vinhos, dos ácidos próprios da uva (tartárico, cítrico e málico) ou dos ácidos provenientes da fermentação alcoólica (succínico, láctico e acético). Estas substâncias são percebidas nas bordas laterais da língua, também na fase de ataque e reconhecidas pela salivação fluida e abundante que provocam.
==> Amargo os taninos podem provocar uma sensação de amargor discreto (em vinhos jovens de boa qualidade) que é melhor sentido no fundo da língua, ou mesmo nenhum amargor (se estes taninos forem muito finos e maduros). O amargor intenso e desagradável é, sempre que presente, um defeito ou uma doença do vinho.
A amplitude destas sensações gustativas pode ser aumentada através de técnicas especiais, que são mais apropriadas para as salas de degustação do que para ocasiões sociais. Inicialmente segure o vinho na boca e, com os lábios entreabertos, inale uma pequena quantidade de ar. Isto criará um turbilhonamento, que acelerará a vaporização do vinho, intensificando os aromas. A seguir, mastigue o vinho vigorosamente para retirar do mesmo cada sutil matiz de sabor.
Nesta fase, deve-se proceder a avaliação do chamado corpo do vinho, que é a sensação de peso que o vinho aparenta ter na boca. Pode ser definido ainda como o quão diferente da água o vinho em questão aparenta ser. O corpo do vinho está diretamente relacionado com o seu teor alcoólico - a quantidade de etanol do vinho e com o seu extrato - a quantidade de material sólido diluído no vinho.
O álcool também poderá excitar os receptores térmicos da língua, provocando uma falsa sensação de calor, freqüentemente acompanhada de uma ligeira ardência na mucosa bucal, além de provocar uma sensação de doçura e maciez.
A concentração de sabores
Um conceito fundamental que hoje, mais do que nunca, é muito valorizado na degustação de um vinho diz respeito à concentração dos aromas e sabores na boca. No jargão da degustação costuma-se referir a este aspecto como o "meio de boca", que num bom vinho deve ser preenchido pelos seus aromas e sabores de frutas. Aqui deve-se valorizar a qualidade e a concentração do vinho, na verdade o quanto de prazer que este vinho nos dá na boca. Cuidado no entanto para não subestimar os vinhos mais sutis, que possuem aromas e sabores delicados. Não se deixe impressionar pelos vinhos super-extraídos e freqüentemente muito alcoólicos, que costumam ser massivos e sem elegância.
A persistência aromática intensa e o aroma de boca
Denomina-se persistência aromática intensa a duração dos aromas e dos sabores de um vinho na boca, antes que estes diminuam de forma acentuada. Quanto mais prolongada for esta sensação, mais valorizado será um vinho. Este tempo de duração, medido em segundos, nos grandes vinhos pode ultrapassar a marca de um minuto.
Diz-se que um vinho tem curta persistência quando a duração for menor que 4 segundos, média persistência quando o tempo for de 5 a 7 segundos e longa persistência quando o tempo for de 8 ou mais segundos.
Após a deglutição do vinho, expire lentamente através da boca e do nariz. Isto fará com que os aromas atinjam o bulbo olfativo pela via retro-nasal, que liga a garganta e o nariz, constituindo-se numa rota alternativa para os aromas, prolongando seus efeitos por muito tempo após o vinho ter sido ingerido. É o que se costuma chamar de retro-olfato. Você descobrirá que quanto melhor for o vinho, seus aromas residuais serão mais complexos, profundos e duradouros.
Este é um momento sublime, de reflexão e comunhão, que só o vinho é capaz de proporcionar. Um grande vinho costuma ter aromas no retro-olfato diferentes dos aromas diretos. Quanto mais aromas novos surgirem, mais valorizado deve ser o vinho.
Adstringência: a qualidade dos taninos
Ainda no final de boca, perceba se existe algum sinal de adstringência, que é a sensação de secura na boca. Esta adstringência é provocada pelos taninos, que têm uma ação coagulante sobre a saliva. Quanto mais grosseiro for o tanino, maior a sensação de adstringência percebida na boca. Lembre-se que vinhos tintos jovens podem possuir taninos mais agressivos, que variam de intensidade de acordo com a variedade de uva. De qualquer forma, uma excessiva adstringência, independente da idade ou da varietal usada no vinho é um sinal preocupante de falta de delicadeza na vinificação ou de uvas colhidas antes de atingir seu máximo grau de maturidade fisiológica. Isto se traduz em taninos verdes e grosseiros, que muito provavelmente não melhorarão no período de envelhecimento na garrafa, por mais longo que seja o tempo de adega. Os grandes vinhos, mesmo jovens, possuem taninos maduros e macios que jamais agridem a mucosa da boca ou causam adstringência excessiva.
Ao final da avaliação gustativa, deveremos ainda correlacionar todas as sensações percebidas, expressando um conceito de difícil definição, que é o de equilíbrio e harmonia do vinho.
O equilíbrio do vinho
O equilíbrio gustativo é o resultado da complexa interação entre as substâncias que formam a estrutura do vinho, isto é, álcool, taninos, açúcares, extrato e ácidos. No caso dos vinhos brancos devemos analisar a relação entre os açúcares (se o vinho for doce) e o álcool, que conferem maciez ao vinho, em contraposição à acidez presente no mesmo. No caso dos vinhos tintos, os elementos a serem apreciados são a acidez, os taninos e o álcool. Quanto mais correta e equânime for a relação entre os elementos, melhor será o equilíbrio e a harmonia do vinho analisado.
Para finalizar, lembre-se de que a degustação de vinhos deve ser encarada como uma grande diversão e acima de tudo, ser extremamente agradável, constituindo-se numa inigualável atividade intelectual, que deve ser praticada com grande paixão.
Bibliografia
1. Emile Peynaud: Le Gôut du Vin
2. Giancarlo Bossi: Teoria e Prática da Degustação de Vinhos
3. Marian W. Baldi: The University Wine Course
4. Michael Broadbent: Winetasting - How to Approach and Appreciate Wine
5. Tom Stevenson: The New Sotheby's Wine Encyclopedia
6. Jancis Robinson: Wine Course
7. Jancis Robinson: The Oxford Companion to Wine
Texto de Arthur P. Azevedo.
sexta-feira, 18 de novembro de 2011
quinta-feira, 17 de novembro de 2011
Vinho e Saúde.
Um pouco de História
Desde a antigüidade, o vinho apresenta-se intimamente ligado à evolução da medicina, desempenhando sempre um papel principal. Os primeiros praticantes da arte da cura, na maioria das vezes curandeiros ou religiosos, já empregavam o vinho como remédio. Papiros do Egito antigo e tábuas dos antigos Sumérios (cerca de 2200 a.C.) já traziam receitas baseadas em vinho, o que o torna a mais antiga prescrição médica documentada.
O grego Hipócrates (cerca de 450 a.C.), tido como o pai da medicina sistematizada, recomendava o vinho como desinfetante, medicamento, um veículo para outras drogas e parte de uma dieta saudável. Para ele, cada tipo de vinho teria uma diferente função medicinal.
Galeno (século II d.C.), o mais famoso médico da Roma antiga, empregava o vinho na cura das feridas dos gladiadores, agindo este como um desinfetante.
Também os Judeus antigos tinham o vinho como medicamento. Segundo o Talmud, "sempre que o vinho faltar, a medicina tornar-se-á necessária".
Foi na Universidade de Salermo (Itália), fundada no século XI, que a importância do vinho sobre a dieta e a saúde foi codificada. Lá, correntes clássicas e árabes se fundiram, fornecendo as bases da medicina européia. O "Regime de Salermo" especificava "diferentes tipos de vinho para diversas constituições e humores".
Avicena (século XI DC), talvez o mais famoso médico do mundo árabe antigo, reconhecia a importância do vinho como forma de cura, embora seu emprego fosse limitado por questões religiosas.
O uso medicinal do vinho continuou por toda a Idade Média, sendo divulgado principalmente por monastérios, hospitais e universidades.
Até o século XVIII, muitos consideravam mais seguro beber vinho do que água pois esta era, freqüentemente, contaminada. Conta a lenda de Heidelberg, na Alemanha, que o guardião do grande barril (Große Faß) onde o soberano guardava todo o vinho recolhido como imposto, só bebia vinho. Seu nome era "Perkeo" (do italiano “Perche no” - por que não). Certa feita deram um líquido diferente para que ele bebesse e este morreu imediatamente. O tal líquido assassino era nada mais nada menos que água.
Em 1865-66, Louis Pasteur, o grande cientista francês nascido na região do Jura (terra dos famosos vin jaunee vin de paille), empregou o vinho em diversas de suas experiências, declarando que o vinho é "a mais higiênica e saudável das bebidas".
Em 1892, durante a grande epidemia de cólera em Hamburgo, o vinho era adicionado à água com intuito de esterilizá-la.
A partir do final do século XIX, a visão do vinho como medicamento começou a mudar. O alcoolismo foi definido como doença e os malefícios de seu consumo indiscriminado começaram a ser estudados. Nas décadas de 70 e 80, o consumo de álcool foi fortemente atacado por campanhas de saúde pública exaltando as complicações de seu uso em excesso. Entretanto, várias pesquisas científicas bem conduzidas têm demonstrado que, consumido com moderação, o vinho traz vários benefícios à saúde.
O consumo moderado
"Nem muito e nem muito pouco" parece ser o princípio para se realçar os efeitos benéficos do vinho sobre a saúde. Entretanto, as autoridades de saúde de vários países têm encontrado dificuldade em estipular o que pode ser considerado "consumo sensato". Na França, a ingestão de até 60 g de álcool por dia é segura para homens. Por outro lado, no Reino Unido, recomenda-se menos de 30 g por dia.
Vários são os fatores que influenciam estes limites: sexo, idade, constituição física, patrimônio genético, condições de saúde e uso de outras substâncias (drogas, medicamentos etc). Em linhas gerais, um homem pode consumir até 30 g de álcool por dia. Para as mulheres, por diversas razões (menor tolerância, menor proporção de água no organismo etc) recomenda-se até 15 g por dia. A diferença entre consumo moderado e exagerado pode significar a diferença entre prevenir e aumentar a mortalidade.
Além da quantidade, a regularidade também é importante para se obter os efeitos benéficos do vinho. Os que exageram nos finais de semana e se poupam nos outros dias podem sofrer todos os malefícios da ingestão exagerada e aguda do vinho sem nenhum ganho para a saúde.
O Paradoxo Francês
Uma grande reviravolta na relação entre vinho e saúde ocorreu no início da década de 90 com a divulgação do Paradoxo Francês. Durante um programa de televisão nos EUA, o cientista francês Serge Renaud mostrou que estudos epidemiológicos em escala mundial evidenciaram que os franceses apresentavam 2,5 vezes menos mortes por doenças coronarianas que os americanos, apesar de fumarem muito e consumirem a mesma quantidade de gorduras. A principal explicação para tal paradoxo estaria no consumo regular e moderado de vinho. Como era de se esperar, após a transmissão do programa, o consumo de vinho tinto nos EUA multiplicou por 4. Tal paradoxo foi, posteriormente, publicado na revista inglesa The Lancet, uma das mais conceituadas revistas médicas do mundo, dando origem a uma enxurrada de artigos sobre os benefícios do vinho sobre a saúde nos tempos modernos.
Álcool, taninos, flavonóides, catecinas, resveratrol, etc
Há muito sabe-se que o álcool, consumido em pequenas doses regulares, traz benefícios para a saúde. Estudos epidemiológicos mostram que o álcool presente no vinho, cerveja e destilados pode diminuir amortalidade por infarto do miocárdio, isquemia cerebral etc. Entretanto, o vinho é quem mais desperta interesse dos cientistas por apresentar, além do álcool, diversas substâncias antioxidantes em sua composição. Entre os mais de 1000 compostos encontrados no vinho, os polifenóis (flavonóides, taninos, catecinas, resveratrol etc) são os mais estudados.
Os polifenóis, derivados de várias plantas, são os antioxidantes mais encontrados em nossa dieta. De acordo com sua origem, apresentam diferentes estruturas químicas. Atualmente, vários estudos têm demonstrado que o resveratrol, um antioxidante natural presente em vinhos tintos e brancos, está associado com os efeitos benéficos do vinho na doença coronária. Além disso, em laboratório, o resveratrol tem mostrado efeito protetor contra o câncer, embora estes resultados ainda não tenham sido demonstrados na prática clínica. Também controversa é a hipótese de que os flavonóides parecem mostrar um efeito protetor contra doenças cardiovasculares, atuando sobre o LDL (colesterol ruim).
Vinho e Saúde: Alguns fatos
Doenças coronárias: o consumo moderado de vinho controla os níveis sangüíneos de algumas substâncias químicas inflamatórias chamadas citocinas. Estas, por sua vez, afetam o colesterol e as proteínas da coagulação. O vinho é capaz de reduzir os níveis de LDL e aumentar os de HDL (colesterol bom). Com relação à coagulação, o vinho torna as plaquetas presentes no sangue menos aderentes e reduz os níveis de fibrina, evitando que o sangue coagule em locais errados. Estes efeitos poderiam prevenir o entupimento de uma coronária, evitando um infarto do miocárdio.
Doenças do cérebro: Os efeitos mais conhecidos do álcool sobre o sistema nervoso são a embriaguez e a dependência alcoólica. Entretanto, quando consumido com parcimônia, o vinho parece reduzir o risco dedemência, incluindo o Mal de Alzheimer. Segundo alguns especialistas, os polifenóis presentes no vinho (principalmente nos tintos) seriam os responsáveis por evitar o envelhecimento das células cerebrais. É intrigante notar que, proporcionalmente falando, a ação antioxidante dos polifenóis dos vinhos brancos é superior à dos tintos. Entretanto, a quantidade de polifenóis dos tintos é muito superior à dos brancos, tornando estes vinhos mais interessantes para as células cerebrais. Além da ação antioxidante, os vinhos melhoram a circulação cerebral, com o fazem com a circulação coronária. Sabe-se, ainda, que as chances de apresentar depressão são menores em consumidores moderados de vinho.
Doenças respiratórias: Experimentos recentes têm demonstrado que o vinho é capaz de reduzir as chances de uma infeção pulmonar, sendo mais eficaz que alguns antibióticos modernos.
Doenças do aparelho digestivo: Há vários séculos, São Paulo já recomendava "um pouco de vinho para a saúde do estômago". Hoje, sabe-se que o consumo moderado de vinho está associado a uma menorincidência de úlcera péptica por uma série de razões: alívio do estresse, inibição da histamina, ação antimicrobiana contra o Helicobacter pylori, bactéria implicada na gênese da úlcera duodenal. Por atuar sobre ocolesterol, o vinho parece reduzir as chances de formação de cálculos no interior da vesícula biliar.
Doenças do aparelho urinário: Estudos mostram que o vinho é capaz de reduzir em até 60% o risco de formação de cálculos urinários, ao estimular a diurese.
Diabetes: o vinho consumido de forma moderada melhora a sensibilidade das células periféricas à insulina, sendo interessante nos pacientes com diabetes tipo 2 (não insulino-dependente). Além disto, o vinho reduz as chances de morte por infarto do miocárdio em pacientes com diabetes tipo 2. Em mulheres, um estudo mostra que o vinho pode reduzir as chances de surgimento de diabetes.
Sangue e anemia: O álcool ajuda o organismo a absorver melhor o ferro ingerido nos alimentos. Além disto, um copo de vinho tinto contém, em média, 0,5mg de ferro.
Ossos: alguns estudos populacionais têm demonstrado que o consumo de pequenas quantidades de vinho é capaz de melhorar a densidade óssea, reduzindo as chances de osteoporose.
Visão: O vinho reduz a degeneração macular, causa comum de cegueira em idosos.
Câncer: A possibilidade de que os antioxidantes presentes no vinho pudessem prevenir alguns tipos decâncer despertou o interesse de muitos pesquisadores em todo o mundo. Alguns estudos populacionais mostram uma redução da mortalidade por doença coronária e por câncer em bebedores comedidos de vinho. Por exemplo, homens que consomem vinho sensata e regularmente têm menor chance de desenvolverLinfoma não-Hodgkin.
Como foi dito repetidas vezes, o consumo moderado parece ser o caminho para a felicidade. Muito ainda precisa ser entendido sobre os reais efeitos, benéficos e maléficos, do vinho sobre a saúde antes de torná-lo a panacéia universal para as moléstias do mundo moderno. Entretanto, em pouquíssimas situações, um remédio pôde ser tão infinitamente agradável e prazeroso.
Assinar:
Postagens (Atom)